Espaço Saúde: [espacosaude-ma] Movimento / Encontro Estudantil é coisa séria

Movimento / Encontro Estudantil é coisa séria


10 de maio de 2005
O porquê deste artigo? Por estarmos acostumados a ter apenas uma visão acerca dos encontros estudantis. E que ponto de vista seria este? O de professores/as reacionários/as* ou preconceituosos/as que muitas vezes - pra não dizer na maioria - nunca sequer foram a um encontro ou fizeram movimento estudantil. É de se questionar porque tantos/as professores/as utilizam-se da - sua posição privilegiada em - sala de aula para fazer discursos contrários ao movimento estudantil. Será que isso é de graça? Eu não apostaria minhas fichas nisso. Pois vamos aos argumentos, penso eu, mais utilizados: 1. Encontro é coisa de vagabundo/a; só tem festa; 2. Não perca tempo com isso que em nada contribuirá para sua vida acadêmica; 3. O que biologia (mas poderia ser qualquer outro curso) tem a ver com política? 4. Movimento estudantil é coisa de baderneiro/a ou revolucionário/a; não se meta com isso, vá estudar para se formar que é melhor; 5. Quem faz movimento estudantil não estuda e, conseqüentemente, não se forma; vira estudante profissional. Agora vamos analisar esses "argumentos" sobre o prisma de quem participa. Vamos dar oportunidade a uma outra voz. 1. Encontro também tem festa como qualquer outro evento social, inclusive os de "natureza científica": congressos, simpósios, etc. 2. Será que exercitar o senso crítico, aprender com a pluralidade de idéias, ter a oportunidade de conhecer diferentes e novas visões sobre antigos e novos temas, trabalhar em conjunto, experimentar a transdisciplinaridade*, etc. não contribui com a sua vida acadêmica, e mais, com a sua vida como um todo? 3. Isso só contribui com a compartimentalização do conhecimento e o fechamento dentro da "nossa" ciência e de nós mesmos. O que (ou quem) então tem a ver com política? Política é só para políticos/as? Mas o que é política e ser político/a? Essa eu não vou responder; vou deixar que cada um encontre a sua verdade, porém, darei apenas um exemplo para trazer luz à questão: há tempos fala-se em tornar a Amazônia território internacional, ou seja, não pertencer mais ao Brasil e sim a um consórcio de países que passariam a administrar aquela região. E aí? Você enquanto (futuro/a) biólogo/a não tem nada a ver com isso e quem tem são os/as "políticos/as profissionais" em seus mandatos? 4. Porque só o que é tido como padrão na academia é que é estudo, formação? Será que ver filmes, assistir peças teatrais, prestigiar manifestações culturais populares, fazer movimento estudantil* também não acrescenta em sua formação? Não confunda formação com formatação**! 5. Esse é outro grande mito. Por que achar que todos/as que atuam no movimento estudantil tem que necessariamente deixar de atuar na academia? Desde quando o movimento estudantil e a academia são excludentes? Saiba que muito pelo contrário. Quem faz movimento é quem, por hábito, questiona os saberes - a força motriz da ciência. Poderiam ser enumerados mais alguns discursos, mas penso que os aqui apresentados já dão uma boa visão de como as coisas podem ser distorcidas. Portanto, ao ouvir coisas semelhantes, tente você questioná-las. Dica: Procures conversar com professores/as e colegas que tem uma outra visão de mundo. Informe-se com quem faz movimento (docente, técnico, estudantil) na sua universidade. Reacionário, adj. Retrogrado (...) s.m. Sectário da reação política ou social. Transdisciplinaridade, Diz respeito àquilo que está, ao mesmo tempo, "entre" as disciplinas, "através" das diferentes disciplinas e "além" de qualquer disciplina. Seu objetivo é a compreensão do mundo presente, mediante a unidade do conhecimento. * Formatação, s.f. Adaptação das características, da estrutura ou da aparência de um conjunto (...) a determinado padrão. Quem faz movimento, movimenta-se. Não assiste passivo o passar do bonde da história. Marcus Aurélio D'Alencar é estudante de Ciências Biológicas Bacharelado da Universidade Federal de Sergipe (UFS), desde 2000.