[espacosaude-ma] As chamas do racismo ardem na UnB !
guigarvgh <guigarvgh@yahoo.com.br> escreveu:As chamas do racismo ardem na UnB
Guilherme Aranha, do Cagea (UnB) e Wilson H. da Silva, da Secretaria
de Negros e Negras do PSTU
Na mesma semana em que a ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria
de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e o vice-presidente José
Alencar deram lamentáveis declarações sobre o racismo no Brasil
(leia matéria no site), um episódio ainda mais deplorável demonstrou
a real dimensão do problema: estudantes africanos da Universidade de
Brasília foram vítimas de um atentado racista e xenófobo
A madrugada do dia 28 de março, quarta-feira, não será esquecida na
Universidade de Brasília e em todo país. Às 4h da madrugada, três
apartamentos da Casa do Estudante Universitário (CEU), habitados por
dez estudantes africanos, vedados com toalhas encharcadas em
gasolina, foram lacrados com tijolos e incendiados. Numa
demonstração mais que evidente da intenção homicida dos criminosos,
antes disso, os extintores de incêndio dos andares em que os
apartamentos se encontram (dois no primeiro e um no segundo) foram
esvaziados.
Ninguém saiu ferido, mas a tentativa de assassinato e o terrorismo
moral deixaram todos perplexos, apesar de não terem surpreendido os
estudantes africanos, que afirmam os casos de racismo e xenofobia
não são novos nem raros: as janelas de seus apartamentos já foram
quebradas, as portas dos quartos foram pichadas com cruzes e
escritos racistas e, em fevereiro, muros do CEU foram pichados com
frases como "Morte aos estrangeiros".
Os casos de racismo e xenofobia na UnB tem se multiplicado devido a
cúplice omissão da reitoria. Foi o próprio reitor da universidade,
Timothy Mulholland, por exemplo, que declarou à imprensa que já
tinha conhecimento das ameaças e ataques aos africanos há pelo menos
seis meses (O Estado de S. Paulo, 30/3/07). No ano passado, quando
um professor de Ciências Políticas escandalizou a universidade ao
ser acusado de racismo em sala de aula, a reitoria fez todo o
possível para abafar o caso e nenhuma providência foi tomada.
Também são vários os relatos de estudantes negros sobre a
dificuldade de acesso ao reitor e do descaso com que são tratados
sempre que tentam fazer alguma queixa.
"Não vamos deixar passar em branco"
Assim que o dia amanheceu e a notícia correu pelo campus, a
indignação tomou conta do movimento estudantil. A mobilização
começou na hora do almoço, com pouco mais de 15 pessoas, reunidas em
um ato convocando para o Restaurante Universitário.
Logo, o grupo foi crescendo. Por todo lado se ouvia: "Não podemos
deixar isto passar em branco". Quando mais de 300 já haviam se
reunido, uma passeata uma passeata foi organizada, partido do Centro
Acadêmico de Sociologia.
Embalados por palavras de ordem como "Brasil, África, América
Central, a luta do negro é internacional", os estudantes ocuparam o
auditório no qual a reitoria promovia um seminário, juntamente com o
MEC, com o propósito de propagandear a Reforma Universitária e
a "Universidade Nova" propostas pelo governo Lula.
Depois disto, a passeata continuou, fazendo um arrastão pelo
Instituto Central de Ciências (conhecido como "Minhocão"), passando
em salas de aula e aglutinado mais e mais estudantes. Quando chegou
à reitoria, a manifestação já contava com cerca de 2 mil pessoas, o
que obrigou o reitor Mulholand a receber os participantes da
passeata.
Mullholland ouviu as críticas e a pauta de reivindicações, se
comprometendo a cumprir algumas delas, como punir os autores do
crime, expulsando-os caso sejam alunos da UnB; apresentar uma série
de medidas para conter a xenofobia e o racismo na instituição e
instituir 28 de março como "Dia da Igualdade Racial", no campus.
No entanto, quando uma estudante pediu para que ele se desculpasse
em nome da UnB, a única coisa que se ouviu foi um contundente
silêncio de cumplicidade, seguido de uma fragorosa vaia. Ou seja,
pressionada por uma situação limite, a reitoria foi obrigada a se
pronunciar, mas isto não significa, de forma alguma, que a UnB está
disposta a assumir sua parcela de responsabilidade nesta lamentável
história.
Racismo só se combate com luta
O Diretório Central dos Estudantes da UnB, "dirigido" pelo PT e pelo
PCdoB manteve sua postura de sempre: manteve suas portas fechadas
para os estudantes e suas reivindicações. Do ato, só um ou outro
diretor ou diretora foram vistos no meio da multidão.
E pior: não queriam que fosse chamada uma assembléia geral para
organizar a luta contra esse gravíssimo episódio. Algo inaceitável,
pois não responder de forma enérgica e contundente a esta tentativa
de assassinato não só pode estimular outros ataques, como também
significa adotar uma posição de covarde cumplicidade com os racistas.
Para nós do PSTU, e particularmente de sua Secretaria de Negros e
Negras, a postura do DCE não é, de forma alguma, surpreendente.
Afinal, à frente dele estão os mesmos partidos responsáveis pela
ocupação do Haiti; pelo aumento do abismo entre negros e brancos,
através da aplicação das reformas neoliberais e, inclusive, por
episódios igualmente xenófobos e racistas, como a deportação, em
2004, de jovens africanos que haviam lutado por sua vida para chegar
ao Recife depois de terem sido jogados ao mar por viajarem
clandestinamente em um navio.
Por isso, conclamamos a comunidade universitária da UnB, as
entidades dos movimentos negro, popular e sindical e a população de
Brasília a se mobilizarem contra mais este crime racista no Brasil.
Para tal, um primeiro e importante passo é a participação na
assembléia convocada, apesar da omissão do DCE, para a próxima
quarta-feira, 4 de abril, a partir das 12 horas.
Além disso, é fundamental o envio de mensagens de repúdio aos
endereços abaixo.
Secretaria Especial para Políticas de Promoção de Igualdade Racial
(SEPPIR) seppir@planalto.gov.br
Reitor Timothy Martin Mulholland tel.: (61) 3307 2600 / 2210
unb@unb.br
Professora Doutora Jaci Toffano (Chefe de Gabinete) tel.: (61)
3307 2600 /2210 jacigabinete@unb.br
Antônia Célia Barros (Assuntos Externos) tel.: (61) 3307 2600 /
2210 / 1750 celia@unb.br
Movimento Estudantil da UnB: unbemovimento@yahoogrupos. com.br
Secretaria Nacional da Conlutas (at.: GT de Negros e Negras):
secretaria@conlutas.org.br
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