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segunda-feira, setembro 25, 2006

[espacosaude-ma] Fwd: Texto "Ecologia na Perspectiva do Comunismo"

gostou, Zema?

dwenen21 <dwenen21@yahoo.com.br> escreveu:

Para: biologos_ufma@yahoogrupos.com.br
De: "dwenen21" <dwenen21@yahoo.com.br>
Data: Thu, 27 Jul 2006 13:49:44 -0000
Assunto: [biologos_ufma] Fwd: Texto "Ecologia na Perspectiva do Comunismo"

--- In biologia@yahoogroups.com, Marcus D'Alencar
<marcus_dalencar@...> wrote:

Ecologia na Perspectiva do Comunismo
Cláudio Hiran Alves Duarte


"Não olhei a fábrica, mas o homem que se consumiu nela,
não olhei a ferrovia, mas o homem que se consumiu nela,
não olhei a Lua, mas o rosto que a refletiu."
Paulo Mendes Campos.

Quais são as diferenças entre uma formiga e um garimpeiro em
atividade no garimpo "Serra Pelada"? A mais fácil de descobrir é que
a formiga busca e carrega algo para consumir, enquanto o garimpeiro
busca e carrega algo para trocar. Essa constatação que parece banal
tem profundas implicações.
Fixemo-nos nela e, antes de continuarmos, imaginemos uma espécie
vivendo dentro de uma grande feira comercial e trocando mercadorias
nessa feira não pelo seu valor de uso, mas pelo seu potencial de
troca. Imaginemos, ainda, que esse potencial de troca fosse medido
através de uma medida que também se torna mercadoria. Avancemos um
pouco mais e imaginemos que os próprios produtores das mercadorias
trocadas nessa feira também sejam, eles mesmos, mercadorias.
Imaginemos, enfim, uma forma universal: a forma-mercadoria, que se
apresenta desprendida de conteúdo, ao mesmo tempo em que absorve
qualquer conteúdo, como um filtro, retendo alguns e deixando passar
outros.
Dificilmente alguém aceitaria a existência de uma espécie assim,
vivendo dessa maneira. Seria, contudo, mais fácil aceitá-la apenas
como uma hipótese lógica em que, uma vez existindo tal feira, a
premissa para alguém poder participar dela seria, é lógico, ter algo
para trocar. Se admitirmos, também, a existência de seres dessa
espécie que não possuem quaisquer objetos para trocar, mas que
possuem força (de trabalho) para produzir mercadorias, poderíamos
admitir que eles seriam "bem-vindos" nessa feira. Mas como, se eles
não têm nada para trocar, a não ser a eles mesmos? Concedendo-lhes
a "liberdade" de optar entre não participar e participar
transformando-se em objeto apto à troca. Liberdade a ser exercida
mediante outra generosa concessão: a autonomia da vontade. Como
objeto apto à troca, receberiam o nome genérico de "sujeitos de
direitos" (princípio ativo) e, como mercadoria propriamente dita,
diversos rótulos: mão-de-obra industrial (esfera da produção), mão-de-
obra
comercial (esfera da circulação) e mão-de-obra de serviços (esferas
da produção e da circulação, a primeira quando produtiva e a segunda
quando improdutiva). Mesmo com diversos rótulos, essa mercadoria não
perderia a sua singularidade: a de ser a única que pode produzir
outras mercadorias. É claro que essa singularidade somente apareceria
se se cruzassem as esferas da produção e da circulação. E se ela
aparecesse, a forma-mercadoria deixaria de ser universal e não se
poderia se sobrepor o potencial de troca ao valor de uso das
mercadorias. "Naturalmente" que tal cruzamento seria indesejável e
não poderia ser admitido. O seu contrário sim, a separação crescente
das esferas, seria o impulsionador da expansão da feira. Mas, ao
mesmo tempo em que se expandiria a nossa feira imaginária, muitas de
suas mercadorias teriam a sua circulação interrompida e "morreriam",
transformar-se-iam no que alguns chamam de capital constante
(máquinas e ferramentas imobilizadas no processo de
produção), diminuindo o espaço para os "sujeitos de direitos". Como
conseqüência, esses "sujeitos de direitos" não seriam tão "bem-
vindos" como antes à feira e exigiriam-lhes novas qualidades
("empregabilidade"), ao ponto de o adjetivo inicial dos rótulos, mão-
de-obra, ser trocado pelo adjetivo cabeça-de-obra.
Se imaginássemos, ainda, que esses "sujeitos de direitos", ou melhor,
que essa mercadoria singular somente pode produzir se contar com
matéria (recursos naturais) para nela incidir (seja como mão-de-obra
ou como cabeça-de-obra), veríamos chegar à nossa feira imaginária
outro componente: a natureza. Mas chegar no sentido de ser trazido,
de ser, portanto, explorado como objeto sobre o qual agem sujeitos
(de direitos, abstratos) que lhes são estranhos. Pronto, teríamos bem
visíveis, então, dois componentes da produção de coisas que servem de
suportes ao valor de troca: força de trabalho (mercadoria com o nome
genérico de sujeito de direitos, portanto, sujeito abstrato) e a
natureza (como objeto e, como tal: muda, passiva, externa, estranha).
Não seria difícil prever onde chegaria essa feira, mantendo-se
inalteradas as relações que nela se estabelecem: a extinção.
Agora imaginemos a outra espécie de ser vivo, a espécie da qual faz
parte a formiga ou, se preferirmos outra, um roedor qualquer, como os
castores, por exemplo. Uma espécie que, por não ter memória social,
seja necessariamente repetitiva em seu fazer e existir: faça sempre
as mesmas coisas e sempre do mesmo jeito. Também não seria difícil
prever a extinção dessa espécie (quantas já desapareceram?).
Pois bem, já podemos voltar à interrogação inicial: quais são as
diferenças entre as espécies imaginadas?
I - Uma delas aparece como efeito e está no sentido de extinção ou de
fim do mundo: para a espécie que não possui memória social ele seria
uniforme, para todos (ou ela é extinta ou se extingue após roer
tudo); já para a outra espécie o fim do mundo não seria uniforme,
embora pudesse ser (basta pensarmos em um incidente nuclear), mas
apenas como possibilidade (há escolha), não como necessidade (não há
escolha). O mundo terminaria apenas para os sujeitos de direitos que
não tivessem nada para trocar além de si. Podemos perceber isso
empiricamente: para muitos deles o mundo já terminou pela
subnutrição, pelas epidemias, pela condenação à reclusão, à
marginalização social, etc. Se prestarmos atenção a esse fato,
perceberemos nele a divisão do mundo em classes sociais.
II - Outra diferença: somente a espécie que possui memória social é
capaz de aprender com seus erros, de não repeti-los e de ser
criativa. Ela possui memória social porque se encontra no limite
entre o mundo da natureza e o mundo da cultura, não por ser uma
criatura cultural, como o pós-modernismo costuma afirmar, mas como
ser cultural em virtude de sua natureza (Terry Eagleton). É,
portanto, um ser singular e a sua singularidade está no fato de só
ela poder destruir o mundo por um ato de vontade e, também, só ela
poder salvá-lo (Ronald de Oliveira Rocha). Sua natureza é capaz de
criar outro mundo: o mundo de uma cultura em que o que é limitado
possa ser ao mesmo tempo infinito (César Benjamin), desde que não
seja separado do "mundo" da produção (das relações de produção) e,
assim, a espécie possa se ver em sua existência concreta, não presa
em categorias abstratas, seja como sujeito de direitos (humanismo
abstrato), seja como portadora de uma essência separada de sua
existência (o naturalismo do bom selvagem ou o naturalismo
teológico, neste como a imagem e semelhança de Deus, ou, ainda,
o "...´naturalismo histórico`, tal como a visão stalinista interpreta
o marxismo, supondo um processo de autoconstrução regido por leis
idênticas às leis naturais. Trata-se... do antropocentrismo, do
humanismo racionalista e abstrato, do jusnaturalismo.", assinala
Adelmo Genro Filho). E desde que, vendo-se em sua existência
concreta, compreenda que ao transformar a natureza, com o seu
trabalho, transforma a si própria, ou seja, entenda que não domina a
natureza como se domina a um objeto, ou como diz Engels em Dialética
da Natureza:

"As pessoas que, na Mesopotâmia, na Grécia, na Ásia Menor e em outros
lugares, dizimaram as florestas para ganhar terras para a lavoura,
estavam longe de pensar que, ao mesmo tempo, criavam as bases dos
atuais desertos desses países (...) os fatos nos lembram a cada passo
que não reinamos sobre a natureza, como um conquistador reina sobre
um povo estrangeiro, ou seja, como alguém que estivesse fora da
natureza, mas que pertencemos a ela..."
III - Outras diferenças entre essas espécies poderiam ser apontadas,
mas o mais importante é traçarmos um paralelo entre o que foi dito e
a ideologia do "fim do mundo" que está presente no discurso de alguns
movimentos ecologistas (apenas alguns, de slogan de sinistra memória
como o "nem direita, nem esquerda", lembrado por Alain Bihr).
Partindo de uma constatação verdadeira: uma das características das
crises ecológicas, a irreversibilidade, esses movimentos (e apenas
esses) transformam essa característica na ideologia que alerta para o
perigo do fim do mundo e, assim, transcendem todas as clivagens
políticas, despolitizam a Ecologia, fazem um discurso supraclassista
e desenvolvem sua luta de fora do Capitalismo. Se o mundo acabar,
acabará para ricos e pobres, homens e mulheres, brancos e negros,
etc., dizem eles. Ora, é claro que quando um ecossistema morre ele
morre para proprietários de meios de produção e para os não
proprietários (ricos e pobres...), mas isso não
significa que o mundo acabará uniformemente para todos, como
aconteceria para a espécie sem memória social que imaginamos. Embora
ele fique mais degradado, mais feio, etc. em geral, em particular ele
pode continuar belo, lindo e vivo. Basta pensarmos na apropriação
privada de praias, ilhas e mesmo da biodiversidade, esta por meio das
diversas Leis de Patentes existentes no mundo, e na apropriação
privada de recursos naturais da Amazônia e do Pantanal. Ou ela não
existe? Basta pensarmos em classes sociais sem confundir classe com
profissão e sem aprisionar Marx na fábrica.
Como esses movimentos desenvolvem sua luta de fora do Capitalismo,
assim como o conquistador denunciado por Engels ou o "sujeito de
direitos" que incide (de fora) sobre a natureza tornada objeto, eles
desconsideram as relações de produção, desconsideram o fato de o
Capitalismo ser eminentemente produtivista, porque voltado à
acumulação e à reprodução de Capital. Desenvolvendo assim a sua luta,
correm o risco de nascerem "condenados pelo futuro", porque apontam
para o perigo de não haver futuro, paradoxalmente, sem mostrar onde
está o perigo, pois não apontam para a necessidade de:
a) Por fim à forma-mercadoria, a fim de retirar da produção social a
influência da "abstração mortífera do valor", como diz Alain Bihr;
b) por fim à apropriação privada dos meios de produção, à divisão da
sociedade em classes e às relações sociais reificadas;
c) "Colocar a Ecologia na Política", para dar mais vida à primeira,
transformar a segunda em livre tráfego de necessidades vitais
(desreificadas) e para podermos amar a humanidade, amando a todos os
homens e mulheres e a todos os seres vivos, sem antropocentrismo.
Enquanto isso não acontece, serve-nos de estímulo à luta a lição de
Antonino Infranca:
"Si no todos los hombres merecen ser amados, ciertamente es necesario
amar la humanidad, que es mucho más que los propios hombres, si bien
no puede existir sin ellos."

       


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