[espacosaude-ma] a verdade sobre a UNE
05/03/2006 - 09h10
da Folha de S.Paulo
Foram necessários R$ 60 e 17 minutos dentro da loja da Blockbuster da praça Charles Müller, em São Paulo, para duas profissionais da Folha, afastadas há anos dos bancos escolares, diga-se, receberem carteirinhas de estudante com seus números de RG e CPF e respectivas fotografias.
Os documentos vieram com a logomarca da União Nacional dos Estudantes (UNE), a assinatura do seu presidente, Gustavo Petta, e são garantia de um direito: o de pagar meia entrada em cinemas, shows e bilheterias de teatro. Também franqueiam acesso a descontos em 4.500 lojas.
No script oficial da venda das carteirinhas, a coisa deveria funcionar assim: estudante preenche formulário de solicitação, junta uma foto 3x4, cópia de RG e do comprovante de matrícula, paga taxa de R$ 30 e leva carteirinha.
No estande na Blockbuster, a realidade foi diversa. Bastou à reportagem preencher a mão, na hora, o formulário, inventando que cursava o segundo ano de uma suposta pós-graduação em semiótica na Fiam, entregar foto, os R$ 30 e pronto. O rapaz não pediu identidade nem um comprovante de matrícula (nem para ver). As carteirinhas expedidas são válidas até março de 2007.
A modalidade de carteirinha da UNE assim comercializada resulta de um convênio com a rádio Jovem Pan. No ano passado, inicial da parceria, foram vendidas 150 mil carteiras. Neste ano, a meta é 300 mil vendas, com faturamento bruto de R$ 9 milhões. Em cinco anos, prevê o plano de negócios, o objetivo é expedir 1 milhão.
Estandes de venda já estão instalados em mais de 400 locais, entre os quais se contam cinco lojas da rede Blockbuster, 50 endereços da Central de Intercâmbio, 38 lanchonetes McDonald's da Grande São Paulo e Campinas, além de sedes da própria rádio Jovem Pan.
O slogan é direto: "Economizar é fácil! Pague menos em mais lugares". No www.estudantejp.com.br, relacionam-se mais de 4.500 estabelecimentos conveniados, que oferecem descontos a quem tem a carteirinha da UNE.
Mas o maior chamariz é poder pagar meia entrada nos cinemas, teatros e shows, um direito assegurado por leis diversas desde os anos 30. Atualmente, apenas entidades estudantis e instituições de ensino fundamental, médio e superior podem expedir os cartões.
Segundo o tesoureiro da UNE, o estudante de história da UFMT Rovilson Portela, 26, toda a operação corre por conta da Jovem Pan. "A gente só fiscaliza." Para ceder o nome, UNE e Ubes recebem R$ 4 por carteira. Todos os custos operacionais correm por conta da rádio e de seus parceiros.
Nos cinemas de três shopping centers de São Paulo, na última sexta, os bilheteiros informavam que de 50% a 80% dos ingressos são vendidos com meia entrada. Segundo exibidores de cinema, o preço cheio do ingresso poderia ser reduzido em até 30% se a meia entrada fosse mais criteriosa.
O tesoureiro da UNE minimiza o problema. Diz que, em um ano de parceria, houve 30 denúncias; quatro teriam sido confirmadas.
Paulo Renato Della Volpe, 42, sócio da Central de Intercâmbio, parceira no negócio, diz que menos de 0,5% das carteirinhas expedidas no ano passado (algo como 750 em 150 mil) tiveram problema. "O que houve com vocês é a exceção das exceções. A gente mantém 15 pessoas verificando o tempo todo o procedimento."
Por ironia, a sede da Central de Intercâmbio fica na praça Charles Müller e é quase vizinha de porta da Blockbuster onde a Folha esteve. Procurados, representantes da Jovem Pan não foram localizados.
UNE vende carteirinha para não-estudante
LAURA CAPRIGLIONEda Folha de S.Paulo
Foram necessários R$ 60 e 17 minutos dentro da loja da Blockbuster da praça Charles Müller, em São Paulo, para duas profissionais da Folha, afastadas há anos dos bancos escolares, diga-se, receberem carteirinhas de estudante com seus números de RG e CPF e respectivas fotografias.
Os documentos vieram com a logomarca da União Nacional dos Estudantes (UNE), a assinatura do seu presidente, Gustavo Petta, e são garantia de um direito: o de pagar meia entrada em cinemas, shows e bilheterias de teatro. Também franqueiam acesso a descontos em 4.500 lojas.
No script oficial da venda das carteirinhas, a coisa deveria funcionar assim: estudante preenche formulário de solicitação, junta uma foto 3x4, cópia de RG e do comprovante de matrícula, paga taxa de R$ 30 e leva carteirinha.
No estande na Blockbuster, a realidade foi diversa. Bastou à reportagem preencher a mão, na hora, o formulário, inventando que cursava o segundo ano de uma suposta pós-graduação em semiótica na Fiam, entregar foto, os R$ 30 e pronto. O rapaz não pediu identidade nem um comprovante de matrícula (nem para ver). As carteirinhas expedidas são válidas até março de 2007.
A modalidade de carteirinha da UNE assim comercializada resulta de um convênio com a rádio Jovem Pan. No ano passado, inicial da parceria, foram vendidas 150 mil carteiras. Neste ano, a meta é 300 mil vendas, com faturamento bruto de R$ 9 milhões. Em cinco anos, prevê o plano de negócios, o objetivo é expedir 1 milhão.
Estandes de venda já estão instalados em mais de 400 locais, entre os quais se contam cinco lojas da rede Blockbuster, 50 endereços da Central de Intercâmbio, 38 lanchonetes McDonald's da Grande São Paulo e Campinas, além de sedes da própria rádio Jovem Pan.
O slogan é direto: "Economizar é fácil! Pague menos em mais lugares". No www.estudantejp.com.br, relacionam-se mais de 4.500 estabelecimentos conveniados, que oferecem descontos a quem tem a carteirinha da UNE.
Mas o maior chamariz é poder pagar meia entrada nos cinemas, teatros e shows, um direito assegurado por leis diversas desde os anos 30. Atualmente, apenas entidades estudantis e instituições de ensino fundamental, médio e superior podem expedir os cartões.
Segundo o tesoureiro da UNE, o estudante de história da UFMT Rovilson Portela, 26, toda a operação corre por conta da Jovem Pan. "A gente só fiscaliza." Para ceder o nome, UNE e Ubes recebem R$ 4 por carteira. Todos os custos operacionais correm por conta da rádio e de seus parceiros.
Nos cinemas de três shopping centers de São Paulo, na última sexta, os bilheteiros informavam que de 50% a 80% dos ingressos são vendidos com meia entrada. Segundo exibidores de cinema, o preço cheio do ingresso poderia ser reduzido em até 30% se a meia entrada fosse mais criteriosa.
O tesoureiro da UNE minimiza o problema. Diz que, em um ano de parceria, houve 30 denúncias; quatro teriam sido confirmadas.
Paulo Renato Della Volpe, 42, sócio da Central de Intercâmbio, parceira no negócio, diz que menos de 0,5% das carteirinhas expedidas no ano passado (algo como 750 em 150 mil) tiveram problema. "O que houve com vocês é a exceção das exceções. A gente mantém 15 pessoas verificando o tempo todo o procedimento."
Por ironia, a sede da Central de Intercâmbio fica na praça Charles Müller e é quase vizinha de porta da Blockbuster onde a Folha esteve. Procurados, representantes da Jovem Pan não foram localizados.
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